"Será preciso mais balas
do que você jamais poderia disparar para ganhar este jogo. Mas basta uma única
bala... para que eu possa lhe dar mil vidas."
Nas últimas palavras proferidas por Alex Krycek, uma proposta.
Sua vida pela de Fox Mulder.
Sem pensar nas conseqüências, Walter Skinner apertou o gatilho.
Mal sabia que, naquele momento, ele estaria selando seu próprio destino.
Aquele homem retornara do passado, como um fantasma a assombrá-lo. Mas, ao
contrário de seus outros fantasmas, este não ia embora quando ele abria os
olhos ao despertar de um pesadelo.
“Não o quero morto, Walter. Pelo contrário. Quero que pague pelo que fez dia
após dia pelo resto de sua vida miserável. E eu estarei por perto para me
assegurar que isso aconteça.”
Um homem morto atormentando outro homem morto.
Por várias vezes, pensou em colocar fim a seu tormento, mas sabia que de nada
adiantaria. Sabia que, de alguma forma, o trariam de volta. Estava preso, sem saída
a não ser cooperar. Não para o seu próprio bem, pois já não se importava
mais. Só o fazia para proteger pessoas inocentes. Elas não tinham que pagar
pelos seus pecados.
Não depois do que ele fora obrigado a fazer.
Ele os traiu. Sacrificou-os para salvar o filho.
Teria a morte deles sido em vão?
– Você deveria pensar menos e agir mais, Walter.
– O que você quer? – Skinner voltou-se para a porta, a raiva evidente em
seu tom de voz.
Alex Krycek sorriu. Walter Skinner teve ímpetos de pegar a arma em sua gaveta e
descarregá-la no homem à sua frente, mas algo o deteve.
– Isso lhe parece familiar? – Krycek mostrou-lhe um pequeno dispositivo,
parecido com um antigo computador de mão.
– Deveria? – Skinner respondeu, sarcástico.
– Ora, parece que ainda lhe restou algum senso de humor – disse-lhe ao
sentar-se na poltrona de couro – Mas não pretendo usar isso, a não ser que
você me force. Não é este o caso, é?
– Já fiz o que queria, Krycek. O que faz aqui?
– Tenho outro trabalho para você.
– Que tipo de trabalho?
Krycek se levantou da poltrona e caminhou até a escrivaninha, onde havia uma
pequena tela de cristal líquido. Com um leve toque, acessou o banco de dados.
Mais alguns toques e a imagem surgiu em um telão na parede oposta.
– Encontre esta mulher.
– Eles já devem estar longe daqui.
– Não, eles não deixaram Washington.
– Como pode ter certeza?
– Não conseguiram o que queriam. E, quando voltarem, você estará esperando.
– E quanto aos demais?
– Mate-os, se precisar, mas traga a mulher. Viva – respondeu-lhe antes de
deixar a sala.
Skinner sentou-se à mesa, seu olhar fixo na imagem exibida no telão.
A mulher de cabelos vermelhos naquela antiga foto parecia sorrir para ele.
Outro fantasma para assombrá-lo.
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Arredores de Washington, Capital
10:25 p.m.
– E estes tais supersoldados trabalham pro governo? – perguntou Melissa.
– Não exatamente – respondeu Monica ao parar o carro em uma rua deserta.
– Quem quer que seja, sabia que estávamos lá e o que estávamos procurando.
– Precisamos voltar.
Melissa a encarou: – O quê? Quase nos pegaram e agora já sabem do que
estamos atrás. Como acha que vamos conseguir acessar as informações?
– Existem outros meios. Mas você tem razão. É melhor esperar a poeira
baixar.
– Aonde vamos? – perguntou Gibson.
– A esta hora já devem ter bloqueado as saídas da cidade. Ficaremos por aqui
mesmo – ela disse ao avistar um pequeno motel próximo a um dos acessos à
rodovia estadual.
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Arredores de Washington, Capital
9:59 p.m.
Dois dias se passaram desde a invasão daquela instalação federal,
classificada com uma tentativa de ataque terrorista. Monica viu o seu nome nos
noticiários, assim como sua foto, juntamente com as de Melissa, que aparecia
sob o nome de Megan Kennessy, e de Gibson Praise. Todos estavam listados entre
os mais procurados do FBI. Era uma questão de tempo até que alguém os visse e
os denunciasse. Registraram-se naquele motel de quinta categoria sob nomes
falsos e pagaram em dinheiro, para evitar que fossem rastreados. Saíam o mínimo
possível e acompanhavam o progresso das investigações pela televisão.
Naquela noite, porém, descobririam que a sua manobra audaciosa lhes custaria
muito caro.
Monica retornara com alguns mantimentos, prevendo o que encontraria. Sentira que
era observada ao entrar no pequeno mercado, mas não era aquilo que a preocupava
mais. Um pequeno televisor estava ligado e ela pôde ver a cobertura de um
verdadeiro cenário de guerra. Cabanas de madeira ainda ardiam em chamas
enquanto bombeiros corriam de um lado para o outro. Ambulâncias partiam em
disparada do local e policiais tentavam manter as câmeras à distância. Um
cordão de isolamento impedia a aproximação da imprensa, mas era possível
avistar alguns corpos, já envoltos em sacos pretos. A versão oficial era de
que alguns membros teriam detonado acidentalmente a carga de explosivos plásticos
enquanto tentavam confeccionar uma bomba. O incêndio teria se espalhado
rapidamente pelo acampamento, pegando de surpresa os que dormiam. Uma mentira
convenientemente plantada. O que estavam presenciando ali era o resultado de um
massacre. Ao chegar, percebeu que Melissa e Gibson olhavam para as imagens na
tela, o mesmo horror estampado em suas faces. Monica se aproximou, colocando a mão
no ombro da outra mulher, tentando confortá-la.
– Sei o que parece, mas não foi o FBI – ela disse.
– Fique longe de mim! – Melissa vociferou, desvencilhando-se.
Monica fez a menção de segui-la quando ela deixou o quarto, mas foi contida
por Gibson.
– Darin está morto – ele lhe disse com um tremor na voz – Seu nome estava
na lista divulgada pelo FBI.
– Acredita mesmo nisso? – ela rebateu – Eles controlam as informações. Só
sabemos o que eles querem que nós saibamos.
– Não importa. Sabe quem fez isso, não sabe?
– Mas por que atacar o acampamento se sabiam que não estávamos mais lá?
– Eles podem ter feito isso para que voltássemos. Jody pode estar entre os
feridos.
Ela voltou os olhos para o aparelho de TV, pensativa. Se fosse verdade, aquilo não
a surpreenderia. Aqueles homens estavam dispostos a tudo para atingir seus
objetivos. Se ao menos...
– Não pode ir procurá-lo – Gibson interrompeu seus pensamentos.
– Por que não? Ele é a única pessoa em quem podemos confiar.
– Se fizer isso, virão atrás dele também.
– Não temos muita escolha, Gibson.
– Precisaremos dele, mas não agora.
– O que sugere que façamos então? – ela o encarou.
– Cuidar de nossas feridas primeiro – disse-lhe ao sair do quarto.
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– Está se perguntando se seria melhor que nunca tivesse descoberto a verdade.
Aquilo não era uma pergunta, mas uma afirmação. Melissa voltou-se para ele:
– Pra que serve a verdade agora? Nada mais importa. Está acabado –
respondeu-lhe, tentando conter as lágrimas.
– Não é nisso em que acredita. Era só uma questão de tempo. Se estivéssemos
lá, eles nos matariam também.
– Jody precisa de mim.
– Se voltar, eles estarão esperando por você.
– Que venham – ela se levantou e caminhou até a picape.
– Jody precisa de você, mas não poderá fazer nada por ele se eles a
pegarem! Ou acha que vai muito longe nesse carro? Há barreiras policiais em
todas as estradas e a nossa descrição já está em todos os noticiários do país
a esta altura.
– Desgraçados! – ela praguejou, socando o que restava do pára-brisa da
picape. O sangue brotou do corte profundo em seu punho e escorreu por entre seus
dedos. O ferimento cicatrizara quase que imediatamente. Vencida pelo cansaço
das noites mal dormidas e pelo estresse da fuga, rendeu-se às lágrimas em um
pranto silencioso.
– Vamos fazer com que paguem por isso. Mas cada coisa a seu tempo – ele lhe
disse enquanto a abraçava.
Monica assistiu à cena de longe, tomada por um sentimento misto de tristeza e
revolta. Tantas vidas perdidas, destruídas... Quando isso chegaria ao fim?
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Resolveu caminhar pela vizinhança, colocar as idéias no lugar. Estava escuro e
as ruas, desertas. Sua presença não seria notada. Precisava pensar no que
fariam, em que rumo tomar. Só não tinha idéia de por onde começar. Deixou
escapar um suspiro de frustração. – John, onde quer que esteja, espero que
fique longe desta confusão – disse para si mesma.
Cerca de meia hora depois, ela retornou. Enquanto se aproximava, algo lhe chamou
a atenção. Havia alguém próximo à porta do quarto em que estavam. Sacou a
arma e, junto à parede, aguardou.
– Agente Federal! Fique onde está! – ordenou.
A sombra não se moveu. Ao chegar mais perto, pôde ver que era um homem. Monica
notou que ele segurava um pequeno aparelho em sua mão.
– Coloque isso no chão e dê dois passos para trás.
Ele permaneceu imóvel.
– Se não fizer o que eu digo, vou atirar.
Olhando para ele, ela pôde jurar que, por entre as sombras, vislumbrou um
sorriso em seu rosto.
No mesmo instante, sentiu um formigamento no braço esquerdo e uma dor quase
insuportável dentro do peito. A arma caiu de sua mão, que não mais lhe
obedecia. O homem à sua frente tocava a tela do aparelho com as pontas dos
dedos. A cada toque, a dor parecia aumentar de intensidade. Tentou gritar por
socorro, mas a voz não saiu. Sua vista tornou-se cada vez mais turva. Já
estava inconsciente antes de seu corpo atingir o chão.
Escondido na penumbra, o homem sorriu, satisfeito. Estava prestes a deixar o
local quando ouviu o barulho característico de uma arma sendo engatilhada.
– O que quer que tenha feito, desfaça agora – disse Melissa, que saiu do
quarto logo que notou a movimentação. Gibson também o mantinha sob a mira de
sua arma.
Silêncio.
– Você vai estar morto antes mesmo de tocar na droga deste botão. Agora
vire-se bem devagar e deixe suas mãos onde eu posso vê-las – ela ordenou.
Ignorando as palavras de Melissa, ele acionou um comando e o corpo de Monica foi
sacudido por um violento espasmo.
– Filho da... – ela desferiu-lhe uma coronhada e ele caiu no chão sem
sentidos. Gibson tocou o seu ombro, chamando-lhe a atenção.
– Ela ainda está viva. Mas vai precisar de um médico – ele disse.
– Não podemos levá-la a um hospital.
– Eu sei, mas se não fizermos nada, ela vai morrer.
– Acho que não – Melissa examinou o aparelho que o homem segurava. Na tela
de cristal líquido havia alguns comandos, ativados pelo toque dos dedos.
– O que é isso?
– Agora eu sei porque sabiam que estaríamos naquela instalação federal
naquela noite.
– Um rastreador?
– Não. Mas funciona da mesma maneira. – respondeu, ainda que não soubesse
exatamente como poderia saber de tudo aquilo. “Malditas memórias”. –
Precisamos de ajuda.
– Acha que ele pode fazer alguma coisa?
– Não temos muita escolha agora. Temos que sair daqui antes de chamar ainda
mais atenção.
– E como vamos sair de Washington? Deve haver barreiras policiais nas
estradas.
– Há outros caminhos. Agora me ajude a colocá-la no carro.
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Falls Church, Virginia
1:05 a.m.
John Doggett assistia ao noticiário da madrugada. Acabara de receber uma ligação
de Washington. A ameaça terrorista fora neutralizada, lhe disseram. Era este o
novo eufemismo para o assassinato a sangue frio de inocentes? Havia mulheres e
crianças naquele lugar, mas ninguém parecia se importar com aquilo exceto ele.
“A que ponto chegamos?”, pensou. Uma onda de náusea o acometeu. Perpetravam
crimes sob o pretexto de evitar outros. Aquilo era insano.
Pensou em Monica, onde estaria, como estaria. No que diabos se metera?
Afastou-se da tela da TV, que se desligou automaticamente e foi para a cozinha.
Precisava de um café.
As luzes se acenderam assim que entrou. Absorto em seus pensamentos, mal notou
que a porta dos fundos estava entreaberta até ouvir uma voz masculina chamar
pelo seu nome. Agindo por puro reflexo, Doggett agarrou a mão do homem que lhe
tocara o ombro e, com um rápido movimento aplicou-lhe uma chave de braço,
jogando-o de encontro ao chão e apontando-lhe a arma contra o rosto. – Quem
diabos é você?!
– Gibson Praise – ele lhe disse entre os dentes, abafando um gemido de dor.
– Bela tentativa. Gibson Praise está desaparecido há mais de 20 anos. Tem
dez segundos pra responder – respondeu Doggett, engatilhando a arma.
– Por que não pergunta para sua parceira? – disse Gibson.
– O que você sabe sobre Monica?
– John... – disse uma voz familiar. Monica estava em pé, junto à porta dos
fundos, amparada por Melissa. Ela apenas acenou com a cabeça, confirmando a
história.
Doggett encarou o homem de óculos caído no chão – Jesus Cristo!
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– O que aconteceu? – ele sentou-se na beirada da cama, olhando preocupado
para a parceira.
– Vou ficar bem, John – ela respondeu.
– Está ardendo em febre – ele pousou a mão sobre sua testa.
– Quem quer que tenha feito isso sabia o que estava fazendo – disse Melissa
ao entregar-lhe um pequeno aparelho que se assemelhava a um antigo computador de
mão.
– O que é isso? – perguntou Doggett.
– A diferença entre a vida e a morte pra sua parceira.
Ele examinou o aparelho – E você, quem é?
– Melissa Scully – respondeu a mulher – É assim que você recebe suas
visitas?
– Só as não anunciadas – Doggett voltou-se para Gibson com um olhar de
interrogação.
– Longa história – ele respondeu, segurando uma bolsa de gelo contra o
rosto.
Doggett os observou enquanto eles deixavam o quarto. Ainda tentando assimilar os
fatos, voltou seu olhar para Monica.
– Como se meteu nesta confusão? – ele perguntou, entrelaçando suas mãos
às dela – O que pretendia encontrar no Oregon, Monica?
– Pistas... mas acho que encontrei mais do que esperava – ela voltou o olhar
para a porta.
– Aquela mulher...
– Ela é quem diz ser, John.
– Como pode ter certeza?
– Gibson confirmou tudo. Por mais incrível que possa parecer, ela é a irmã
de Dana.
Doggett a encarou, pensativo.
– O que foi? – ela perguntou ao notar a mudança em seu semblante.
– Faz sentido – ele murmurou.
– O que quer dizer?
– Tem uma coisa que você precisa saber. Durante a investigação do seu
desaparecimento, encontraram sangue no carro alugado. Uma das amostras era sua.
A outra...
– Era de Melissa, não era?
Doggett assentiu com a cabeça. – Analisaram as amostras no laboratório do
FBI. Um dos agentes me ligou e me disse que ela era semelhante a uma das
amostras em nosso banco de dados. E o nome de Scully apareceu. Por um momento,
pensei que pudesse ser o sangue de Scully, mas a análise de DNA indicou que se
tratava de um parente próximo.
– Melissa e Dana são irmãs, John. Isso explica a semelhança.
– Mas a amostra de Scully não foi a única que apareceu no resultado, Monica.
– Como assim? De quem era a outra amostra?
– Van de Kamp.
Monica franziu a testa. – William Van de Kamp? Tem certeza?
– Foi o que eu perguntei, mas estes testes não costumam dar errado.
– Meu Deus, John... Sabe o que isso significa?
– Eu sei, mas não deve se preocupar com isso agora. A polícia e o FBI estão
atrás de você e dos outros. Não é seguro vocês ficarem aqui.
– Estávamos perto demais, por isso nos separaram. E talvez tenham feito o
mesmo com Skinner e Kersh.
– Pode ser isso mesmo. Ele se aposentou e sumiu do mapa logo depois. Nunca
soube exatamente o motivo. Kersh também desapareceu.
– John, colocaram estas coisas em mim. Por alguma razão, nos mantiveram vivos
este tempo todo. E agora desconfio do porquê. Querem que nós encontremos algo
que eles não conseguem encontrar por conta própria.
– Mulder e Scully?
– Eles já têm William a seu alcance. O que mais poderia ser?
– Não sei, mas vamos descobrir.
Gibson e Melissa o aguardavam na sala de estar.
– Agora vocês querem me dizer o que está acontecendo? – ele perguntou.
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– Está dizendo que estas coisas estão dentro do corpo de Monica?
– Tudo o que eu sei é que só elas poderiam ter causado isso. Se fosse mesmo
um infarto, ela estaria morta agora. Aquilo foi só um aviso – respondeu
Melissa.
Doggett estremeceu. Lembrou-se da sensação de desconforto que tal tecnologia
sempre lhe causava, por mais que alardeassem seus benefícios. Sempre tivera
medo do estrago que ela poderia causar se utilizada para outros fins. Descobrira
da pior maneira o quanto estavam vulneráveis.
– Ah, e tem mais uma coisa, agente Doggett.
– O que é?
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Melissa levantou a lona que cobria a caçamba da picape depois que Gibson
estacionou o veículo em frente à casa.
– Quem é esse? – Doggett olhou para o homem algemado e amordaçado.
– Acho que ele poderia nos dar algumas respostas. Foi ele quem atacou a agente
Reyes.
– Não diga – Doggett agarrou o homem pela camisa, arrancando-lhe um gemido
de dor ao jogá-lo de encontro ao asfalto. Melissa o conteve com dificuldade.
– Não vai conseguir nada se o matar, agente Doggett. Faça as perguntas
primeiro. Depois pode fazer o que quiser com ele.
Ele assentiu com a cabeça, mas deu um chute nas costelas do desconhecido, que
teve o seu grito de dor abafado pela mordaça. Com a ajuda de Gibson, Doggett
levantou o homem e, quando estavam prontos para levá-lo para dentro, ele caiu
novamente, seu corpo sacudido por espasmos violentos.
– Que diabos? – exclamou Doggett.
Melissa olhou para os lados, sacando a arma. – Estão por perto.
– Do que está falando?
Ela avistou, no outro quarteirão, um carro com dois ocupantes. – Temos que
sair daqui. Rápido.
– E quanto a ele? – Doggett apontou para o homem caído no meio do jardim.
Havia sangue em seu nariz e ouvidos.
– Ele já está morto. Vamos!
Gibson já estava dentro da casa e, com a ajuda de Doggett, levaram Monica até
o carro dele.
Notando a movimentação, os dois homens saíram do carro. Um deles tinha um
pequeno aparelho nas mãos, o outro, sacou uma arma e começou a correr na direção
deles. Melissa se voltou para Gibson: – Leve a agente Reyes pra longe daqui.
Nos encontramos depois.
Ele apenas acenou com a cabeça e correu para o lado do motorista, dando a
partida no motor.
– Vá com ele! Vou tentar retardá-los! – Doggett gritou para Melissa.
– Não acho que vai conseguir detê-los sozinho, Agente Doggett – ela
respondeu.
– E você? O que pensa que pode fazer?
– Vai me dar cobertura ou não?
Ele a encarou por uns instantes.
– O que é tão engraçado, FBI? – ela perguntou ao vê-lo esboçar um
sorriso.
– Você me lembrou de alguém, só isso.
A conversa foi interrompida por uma saraivada de balas, que fez com que se
jogassem contra o chão. Doggett atirou de volta, fazendo-os recuar. Melissa
aproveitou a brecha para se abrigar atrás da picape e gritou para que Gibson
partisse com o carro. Ele obedeceu prontamente e saiu da linha de fogo. De onde
estava, ela podia ver um dos homens com o pequeno dispositivo nas mãos. Se
fosse o que ela estava pensando, teriam problemas. Os tiros continuavam. Era
questão de tempo até a polícia aparecer. Logo notou que era a única a atirar
de volta.
– Mas que drog... Agente Doggett!
Não obteve resposta. O tiroteio se tornava mais intenso. Balas ricocheteavam no
asfalto e atingiam a lataria do veículo. Ele estava chegando perto. Perto
demais.
– Agente Doggett!
– Saia daqui! – respondeu uma voz abafada.
De relance, ela o viu caído no jardim, contorcendo-se de dor. Sem pensar duas
vezes, voltou-se para o homem que permanecera próximo ao carro, mirou e atirou.
Àquela distância, só pôde ver a sombra tombar na calçada. O tiro fora
certeiro.
Mas era o último.
O outro homem, ao ver o colega caído, voltou-se para Melissa, apontando-lhe a
arma.
Um estampido seco e seu corpo tombou no asfalto, a poucos metros de onde ela
estava.
Sem entender bem o que acontecera, ela se voltou na direção de onde partira o
som e viu Doggett ainda de arma em punho. Depois de se certificar de que os dois
não representavam mais uma ameaça, voltou-se para o agente ferido.
– Consegue andar?
– Acho que sim – ele respondeu.
– Vamos – ela o ajudou a se levantar – Estou ouvindo sirenes. Logo teremos
companhia.
– Onde aprendeu a atirar desse jeito?
– Sobrevivência. No coração do Oregon, as armas são suas melhores
companheiras.
– Para onde vamos?
– Já temia que algo assim acontecesse, então marquei um local pra nos
encontrarmos caso tivéssemos que nos separar por algum motivo – ela respondeu
ao ajudá-lo a entrar na picape.
– Não acho uma boa idéia sairmos por aí nesse carro. A polícia já deve
ter a descrição dele, assim como a placa.
– Gibson levou o seu, o que sugere?
– Acho que o meu vizinho não vai se importar se pegarmos o dele emprestado
– ele acenou com a cabeça em direção a um carro estacionado do outro lado
da rua.
– Quer que eu roube um carro? – ela o encarou com um olhar incrédulo.
– Acho que isso não vai tornar a nossa situação ainda pior do que está, não
é?
– É um bom argumento. Esta coisa não tem alarme, tem?
– Não.
– Ótimo – ela disse antes de quebrar o vidro com uma coronhada – Não
temos tempo pra sutilezas. Vamos?
Os dois partiram no carro momentos antes de a polícia chegar ao local.
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Gibson parou o carro próximo a uma zona residencial. Várias viaturas de polícia
passaram por eles ao longo do caminho, mas eles permaneceram incógnitos. Pelo
menos por enquanto.
– Os pesadelos... era sobre isso que queria me falar naquela noite? –
perguntou Monica.
Ele fez um gesto afirmativo. – Lembranças reprimidas. Elas podem retornar na
forma de sonhos. Foi o que aconteceu com Melissa.
– Deus... – Monica desviou o olhar para a janela.
Gibson balançou a cabeça ao perceber quais eram os pensamentos da mulher ao
seu lado.
– Agente Reyes, o FBI e a polícia acham que você é cúmplice de homicídio.
Não acho que seria uma boa idéia nos separarmos. Para onde você iria?
– Vocês não estariam envolvidos nisso, se não fosse por minha causa.
– Nós já estávamos envolvidos – ele respondeu – Agora tente descansar.
Melissa e o agente Doggett devem estar a caminho.
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Washington, Capital
1:56 a.m.
Skinner desligou o telefone. Aquela não seria uma presa fácil como pensavam. A
custo, escondeu a sua satisfação com a notícia.
– É só uma questão de tempo, Walter.
A voz causou-lhe um leve sobressalto. Detestava quando ele o espreitava daquela
maneira.
– O que veio fazer aqui?
Ele jogou um cartão de visitas sobre a mesa. – Quero que faça uma ligação.
Antes que pudesse dizer mais alguma coisa, ele partiu. Aproximou-se da mesa e
pegou o cartão. Reconhecera imediatamente o logotipo da agência espacial. O
nome e o número de telefone estavam impressos em alto relevo:
Sari Kapoor
Engenheira-chefe
(202) 555-3112
xxxxxxxxxxxxx
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