Perfect Nightmare II




LOCAL DESCONHECIDO

O homem caminhava sem pressa pelo imenso e escuro corredor parando em frente à pesada porta de ferro que escondia sua presa mais preciosa até aquele momento. Alguns toques nos botões ao lado da porta e ela se abriu com um ruído metálico.

Como ele esperava, o ruído alertou seu prisioneiro que já o aguardava em pé, em uma postura defensiva, típica de alguém com treinamento militar. O homem sorriu maldosamente. Seu prisioneiro, com certeza, estava preparado para qualquer tortura a que fosse submetido, mas não tinha idéia de que seus captores também estavam preparados para ele.

Skinner não sabia quanto tempo ficara desacordado, mas calculava que estava desperto há pelo menos seis horas. Seis horas sem ter idéia de onde ou com quem estava. Mas Skinner imaginava quem seriam seus captores e o rosto do homem que o capturara apenas confirmou suas suspeitas.

_ Diretor Skinner, espero que esteja confortável.

_ Seu miserável! O que você quer comigo?

_ Apenas uma coisa: colaboração.

_ Eu nunca vou colaborar com você nem com seus associados. Já fui obrigado a fazer isso uma vez e não vou cometer este erro novamente.

O homem deu um sorriso malvado para seu prisioneiro _ Nunca diga nunca, Walter.

Skinner ergueu a cabeça, desafiante.

_ Você acha que pode me convencer à força? Tente se tiver coragem.

_ Você vai se juntar a mim, Walter, você verá que sim. Voltaremos a conversar em dois dias e, então, veremos quem terá a última palavra.

Sem esperar resposta, o homem virou-se e deixou a pequena sala. Skinner suspirou impaciente, imaginando se demoraria muito até que alguém entrasse lá para torturá-lo. Foi quando um ruído chamou sua atenção e uma luz foi acesa, permitindo que ele visse outra sala, similar à que estava, através de uma grossa parede de vidro. Privado de seus óculos, ele precisou aproximar-se mais do vidro para conseguir identificar as duas pessoas que estavam largadas no chão, desacordadas e precisou sufocar um grito de revolta quando finalmente reconheceu os rostos de seus amigos.


QUARTEL GENERAL DO FBI

O Diretor Delegado Kersh bateu o telefone com raiva e levantou-se da cadeira, irritado. Parou ao lado da janela, observando o movimento da rua apinhada de pessoas indo e vindo, alheias aos problemas umas das outras.

Kersh fechou os olhos, o sentimento de desamparo dominando, por um instante, sua mente sempre lógica e fria. Skinner estava desaparecido há mais de trinta e seis horas, mas Kersh sabia que esse tempo poderia ser maior, já que a ausência do Diretor Assistente só havia sido notada na manhã anterior, durante uma reunião. Kersh estava, desde então, usando todas as suas fontes para descobrir o paradeiro de Skinner. Tentara contato com os agentes Doggett e Reyes, mas ambos estavam em investigações fora do Bureau e, aparentemente, sem os celulares.

Somente naquela manhã, ele começara a desconfiar que talvez o desaparecimento de Skinner estivesse ligado ao sumiço de Doggett e Reyes. Algumas ligações confirmaram suas suspeitas, os dois agentes também estavam desaparecidos há algum tempo. Ele apenas desconfiava de quem seriam os captores de Skinner, Doggett e Reyes e o simples pensamento do que eles poderiam estar passando naquele exato instante o fazia gelar de medo.

O Diretor Delegado passou a mão pelo rosto, sabendo que ele não poderia fazer nada para ajudar, eles estavam por conta própria.


LOCAL DESCONHECIDO
48 HORAS DEPOIS

O barulho de sua própria respiração doía em seus ouvidos, tanto quanto o esforço para puxar o ar para dentro de seus pulmões fazia sua garganta doer.

O gosto de sangue inundava sua boca e seus olhos quase não se abriam mais devido ao inchaço provocado pelos golpes. Mesmo assim, ele encontrou forças para jogar-se de encontro a seus carrascos quando o grito de agonia de sua parceira foi ouvido mais uma vez. Vários pares de mãos o seguraram e seu grito de revolta sobrepujou todos os ruídos da sala. Novos golpes em seu corpo já muito machucado o jogaram no chão, ao lado de sua parceira, que soluçava baixinho.

Com esforço, ele moveu o corpo para mais perto dela e, desajeitadamente, tocou o rosto coberto de hematomas, com a ponta dos dedos. Ela estendeu os braços e puxou-o para junto de si, seu sangue misturando-se ao dele em uma cruel ironia. Sempre desejara tê-lo tão próximo, mas jamais imaginara que seria daquela forma: abatidos como animais, envoltos em imundície e degradação.


O homem deixou suas vítimas e caminhou sem pressa para a saleta contígua de onde podia-se ouvir gritos ensurdecedores. Se ele não soubesse o que havia atrás daquela porta, diria, com certeza, que um animal feroz encontrava-se mortalmente ferido lá dentro.

Abriu a porta e entrou no aposento, sentando-se calmamente, enquanto observava o homem que gritava e esmurrava a grossa parede de vidro que separava os dois quartos. As duas mãos do homem estavam cobertas de sangue que escorriam dos ferimentos causados pelos golpes infrutíferos que ele desferia na barreira que o separava de seus agentes.

Há dois dias ele presenciava, impotente, a tortura ininterrupta dos dois amigos. Ninguém tocara nele, estava isolado naquela jaula, que tinha o comprimento da parede e a largura de um corredor estreito. Sempre que as torturas recomeçavam, ele era deixado sozinho, tendo apenas o som amplificado que vinha da câmara de tortura onde John e Monica se encontravam e a visão dos dois sendo torturados impiedosamente como seus únicos companheiros

_ Não precisava ser assim, Sr. Skinner, a culpa do que aconteceu com eles é única e exclusivamente sua.

Ele pretendia não responder a nada que lhe dissessem mas a raiva diante das palavras daquele homem o fizeram perder a cabeça.

_ Seu bastardo filho da p...! Por que está fazendo isso com eles?

O homem apenas sorriu.

_ Isto pode acabar a qualquer minuto, só depende de você.

Skinner respirou fundo e, sem tirar os olhos do casal na outra sala, falou entre dentes.

_ O que você quer?

O homem levantou-se e, aproximando-se, parou bem próximo às grades de ferro, olhando distraidamente pelo vidro. Depois, encarou o Diretor Assistente com os olhos frios.

_ Quero você, Walter, sua lealdade incondicional. Você, trabalhando para mim e por mim. Quero que Mulder e Scully sejam mortos por ordem sua. Quero sua alma, sua vida.

Skinner olhou para o homem, a incredulidade estampada em seu rosto. Ele não podia estar falando sério. Mas estava, não havia nenhum traço de humor no rosto que o encarava de volta com uma serenidade absurda para a situação em que se encontravam.

_ E John? E Monica?

_ Ficarão aqui até estarem curados. E, é claro, vão se esquecer completamente destes dois dias. A memória que terão é a de que foram capturados mas conseguiram escapar ilesos, apenas isso.

Skinner olhou mais uma vez para os dois corpos abandonados no chão. John mal conseguia mover-se e Monica tinha os braços passados em volta do pescoço de seu parceiro. Vez por outra, o corpo esbelto era sacudido por soluços. Skinner fechou os olhos e tentou respirar fundo mas era quase doloroso respirar ali, enquanto negociava a venda de sua alma a um demônio. Depois de alguns segundos, encarou novamente seu captor.

_ Quais as garantias que me dará de que eles serão mesmo libertados?

_ Todas as que quiser, Walter, eles ficarão livres e intocados desde que você ande na linha.

_ E o que exatamente será "andar na linha" para você?

_ Eu já lhe disse, lealdade incondicional. Você terá plenos poderes no FBI mas se reportará a mim e obedecerá apenas às minhas ordens, sejam elas quais forem. Reyes e Doggett não deverão trabalhar juntos nunca mais. Isso ficará sob sua responsabilidade.

Depois de uma pausa significativa, ele continuou.

_ E, é claro, quero Mulder e Scully mortos. Tenho o plano e o executor, mas quero que a ordem seja dada por você.

_ Você é insano...

_ Não somos todos insanos? Neste mundo insano? Entenda uma coisa, Walter: a colonização vai acontecer, quer você queria, quer não. A invasão nem mesmo será notada e quando alguém perceber alguma coisa, será tarde demais. Os únicos que podem atrapalhar estes planos são Mulder e Scully.

Ao ver a expressão de incredulidade no rosto do Diretor Assistente, ele sorriu.

_ Sim, irônico não é mesmo? O "estranho" Mulder e sua parceira céptica são aqueles que podem destruir nosso trabalho.

Skinner respirava com dificuldade, seu dilema era assustador mas ele não se perdoaria se permitisse que John e Monica fossem torturados mais ainda. Deixou sua cabeça pender em direção a seu peito, a garganta travada pela raiva e falou entre dentes.

_ Você venceu, eu aceito os seus termos.

Sem erguer os olhos, ele percebeu que o homem se afastava em direção à porta e, quando lhe respondeu, não havia nenhum triunfo em sua voz, apenas a firmeza de quem sempre estivera certo de sua vitória.

_ Você será libertado em uma hora, Diretor Assistente. Assim que chegar ao Bureau, receberá suas ordens. Seus agentes lhe serão devolvidos em alguns dias, em perfeito estado de saúde. Adeus, Diretor Assistente Skinner, foi um prazer fazer negócios com você.

Quando a porta finalmente se fechou, ele ousou erguer novamente os olhos. John e Monica ainda estavam no chão, abraçados e praticamente imóveis. Skinner sentiu um aperto em seu peito. Ele os estava traindo. Estava traindo Mulder e Scully e tudo pelo que aqueles quatro haviam lutado tanto. Mas ao menos John e Monica estariam seguros por algum tempo.

Skinner desviou o olhar da parede de vidro e fixou-o na porta de ferro que fechava sua cela. Aquele homem poderia achar que o vencera, mas ele teria o troco. Um dia, ele pagaria bem caro pelo que fizera a John e a Monica. Skinner era um homem paciente, ele esperaria o momento certo. Até lá, teria que jogar pelas regras do inimigo e a coisa mais difícil que ele teria que fazer era dar a ordem para a execução de Fox Mulder e Dana Scully.