23 de dezembro de 2012 - Domingo.
O dia surgiu sem que houvesse qualquer testemunha daquele fato. Era como uma
enorme sala de teatro, no dia seguinte a uma grande apresentação. As cadeiras
vazias, pipocas jogadas pelo chão, copos de refrigerantes virados e seu conteúdo
grudento sujando o carpete já muito empoeirado.
O sol encontrou o mundo exatamente como a equipe de limpeza encontraria a sala
de cinema. De má vontade.
A luz parca se esgueirava silenciosamente por meio das folhas das árvores. O
calor ainda demoraria muito a reinar novamente.
O vento, ainda frio, buscava seu caminho entre a vegetação rasteira, agora
queimada. Flocos de cinzas planavam lentamente, levados pelo vento preguiçoso.
O odor acre das cinzas impregnava toda a floresta, e nenhum som poderia ser
ouvido, mesmo que houvesse alguém capaz de fazê-lo naquele momento.
Uma folha queimada parecia disposta a deixar de fazer parte daquele cenário e
parecia se arrastar lentamente, com a ajuda da brisa, para outras paragens.
Não que houvesse outro lugar menos devastado do que aquela floresta.
A folha voou alguns metros, se enroscando em um enorme tronco de madeira
carbonizada. O fogo que havia consumido o tronco ainda habitava dentro dele,
escondido, aguardando a chegada de algo que pudesse destruir com suas chamas.
A folha, apesar de já bastante queimada, ainda serviria de alimento para o
fogo.
Em segundos, após ter tocado o tronco, a folha deixou de existir.
A brisa, ignorando toda essa ação, continuou sua trajetória, às vezes
permitindo que alguma outra folha saltasse em seu dorso e buscasse uma fuga.
Mas o vento era fraco, e as folhas se desfaziam assim que tocavam o solo.
O vento continuou sua trajetória, às vezes se esforçando para chegar mais rápido
ao seu destino, outras diminuindo seu ritmo, ao se dar conta de que não havia
qualquer destino à sua frente.
Tudo o que restara eram cinzas. A fumaça, antes densa, agora subia lentamente
ao céu em pequenos filetes, como um quadro a óleo recém pintado.
O sol parecia ainda indeciso sobre fazer sua aparição habitual ou esconder-se
atrás das nuvens, tornando-se uma testemunha privilegiada dos acontecimentos.
Mas nem mesmo o sol poderia buscar abrigo naquele dia. As nuvens não
permitiriam tal omissão.
Assim, contrastando com a cor pálida da terra abaixo dele, surgia o sol,
luminoso e brilhante, distribuindo luz e vida onde já não havia qualquer ser
que pudesse recepcioná-lo.
Se houvesse um ser vivo que tivesse resistido àquela devastação, com certeza
estaria vendo o mesmo panorama, para qualquer lado que olhasse. Mas, caso o
sobrevivente fosse um pouco mais atento, talvez percebesse alguns sinais que lhe
trouxessem esperança.
Teria que desviar o olhar dos troncos queimados, carbonizados. Das árvores
antes frondosas, agora reduzidas a blocos de cinzas, que agora cobriam o chão.
Deveria ignorar o cheiro acre de fumaça, o calor que ainda subia do solo.
Seria obrigado a olhar além do que antes era a floresta, se insinuar pelas
trilhas criadas por Deus sabe quem, que levavam a lugar algum.
Mais adiante, onde supostamente não havia mais nada, se encontrava uma cabana.
O vento não tardou a encontrá-la ainda de pé, alheia à destruição a sua
volta.
Talvez curioso com aquele fenômeno, a brisa buscou alguma entrada para a
cabana. Não foi difícil encontrar uma brecha na porta da frente.
Sem se preocupar em pedir licença, o vento entrou se espalhando pelos cômodos
da cabana, curioso demais para se deter em um local por vez.
Uma parte do vento levantou algumas folhas de papel que dormiam em cima da mesa.
Em seguida deslizou para debaixo do sofá, encontrando uma leve poeira, nada com
que pudesse se distrair.
Tudo parecia limpo, na verdade, e o vento logo se cansou e correu para se juntar
ao resto de si, que agora corria para o quarto.
Uniram-se as duas partes e se tornaram novamente um só ser.
Passou por debaixo da cômoda de madeira e prosseguiu seu caminho por baixo da
cama.
Subitamente encontrou uma barreira, a própria parede. Já sem forças de se
desviar de seu novo obstáculo, começou a esmorecer, até que finalmente
desapareceu, consumido pelo próprio desejo de fugir.
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