Perfect Hell

parte 2

 


A viagem para Washington foi repleta de dúvidas e apreensão.

Após terem enchido o tanque da camionete, os dois sequer discutiram o assunto. Ambos sabiam que deveriam partir. Deixaram a pequena cidade, que havia sido o único elo entre os dois e a civilização e partiram de volta para casa.

Não sabiam o que iriam encontrar, apesar da calma estampada nos habitantes da cidade. Aquela história do caminhão acidentado parecia suspeita demais.

Se não fosse aquele detalhe sobre o carro ter parado de funcionar, eles até que não achariam nada de tão estranho. Mas a falta de energia, exatamente naquela data, parecia a ambos um sinal. 

Se naquela região remota havia havido aquele acidente, quem sabe como estaria a situação em centros mais populosos.

À medida que prosseguiam em sua viagem, a tensão ia diminuindo. Era fácil notar como tudo parecia perfeitamente normal.

Carros passavam por eles em velocidade normal, não havia qualquer acidente na estrada, nos postos de gasolina onde paravam eventualmente, encontravam pessoas aparentemente tranqüilas, e em dois daqueles postos de serviço puderam assistir ao noticiário na TV.

Nada de luzes brilhantes sobrevoando os céus, relatos de abduzidos que agora gritavam que nunca foram loucos, que sempre estiveram certos, imagens de foto e destruição.

Somente as mesmas notícias de sempre. As mesmas guerras que nunca acabavam, um louco que seqüestrara todos os clientes de algum banco, um time de baseball que conseguira vencer o campeonato após anos de tentativas frustradas.

Nada que indicasse uma invasão de seres de outras galáxias.

Prosseguiram a viagem, de qualquer maneira.

Quando, enfim, chegaram a Washington, estavam cansados demais para tirarem qualquer conclusão sobre os efeitos da invasão ou se ela havia ocorrido, afinal.

Haviam vivido ali por tanto tempo, que já sabiam qual área da cidade possuía bons hotéis. Procuraram por um deles e se alojaram rapidamente.

_ Scully, acha que deveríamos procurar por alguém?

_ Você quer dizer quem?

O tom da pergunta indicava a quem ela estava se referindo. William. Mas Mulder preferiu fingir que ela se referia a Doggett, Reyes ou Skinner.

O mundo parecia ter escapado de uma invasão, e talvez eles não corressem mais qualquer perigo. Poderiam procurar pela criança sem problemas.

Mas o que o preocupava não era, sequer, a dificuldade de encontrá-lo, ou os riscos, mas sim como o menino reagiria após dez anos. Ele jamais os havia conhecido, talvez nem ao menos soubesse que era adotado.

Como explicar para aquela criança os motivos que levaram sua mãe a dá-lo para outra família?

E o pior, como explicar que decidiram voltar porque o mundo "não" acabara?

Aquela conversa, mesmo hipotética, era surreal e dolorosa.

Procurar por Monica, Doggett e Skinner era lógico e sensato. Não tardou para Mulder responder.

_ Doggett, Skinner e Reyes. Sua mãe, quem sabe. Acho que seria bom encontrá-los e não acho que seja perigoso. A data passou, não existe mais nenhuma verdade a ser escondida.

_ Mulder, não acha isso triste? Que nós dois tenhamos praticamente colaborado para manter a verdade escondida?

Mulder não respondeu. Continuou desfazendo a pequena mala que haviam trazido. Mas Scully não se deu por vencida. Aquela pergunta sempre estivera presente entre os dois, e talvez aquele fosse o momento certo para que os dois a respondessem.

_ Mulder?

_ Quer comer alguma coisa?

_ Não vai responder?

_ O que você quer saber, Scully? Você tem a resposta. Sempre teve. Eu não vou ficar aqui me defendendo, dizendo que nós tomamos a decisão correta, porque eu não sei se isso é verdade. Quer comer alguma coisa?

Dessa vez Scully nada disse. Ignorando-o, ela pegou algumas roupas e foi até o banheiro.

Não havia muito o que discutir, o que tiveram que fazer durante anos havia sido uma escolha mútua. Ela estaria sendo injusta se jogasse na cara dele que a fuga havia sido em vão, que talvez não houvesse ninguém que os perseguisse.

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A intenção de procurar por seus ex-colegas ficou somente na vontade. Mulder havia deixado Scully no hotel para buscar informações. Mas não podia, simplesmente, aparecer na porta do FBI perguntando pelos agentes.

Já sabia que uma busca no catálogo telefônico seria infrutífera. Eles não tinham seus números divulgados. Não seria difícil verificar nos locais onde moravam, dez anos antes, mas a chance de qualquer um deles ainda morar no mesmo local era remota.

Seria mais simples, por enquanto, verificar a situação pós-invasão na cidade.

Era importante saber, também, se os dois ainda corriam riscos. Mas descobrir isso parecia impossível sem algum contato.
Sem seus colegas ou os pistoleiros, que haviam sido seus informantes durante anos, Mulder se sentia como um turista perguntando onde era o Capitólio.

Após caminha um pouco pelas ruas, pôde perceber que não haviam sinais de qualquer invasão. Ninguém comentava acidentes estranhos, mas em uma cidade como Washington acidentes passavam despercebidos.

E mesmo que muitos incidentes ocorressem no mesmo período, as pessoas diriam somente que havia sido um ida de azar.

Una-se a isso a proximidade do natal, capaz de distrair as pessoas de assuntos importantes, e aquele silêncio estaria explicado.

Mulder decidiu voltar para o hotel. Deixaria esse assunto para o dia seguinte. Chamaria Scully para um jantar tranqüilo e ambos teriam uma noite normal. Não uma típica noite de natal, mas ainda assim uma noite tranqüila.

Scully não parecia muito animada com a idéia, no entanto.

_ Vamos, Scully, somente para relaxar. Você escolhe o restaurante.

_ Mulder, hoje é noite de natal, esqueceu? Os poucos restaurantes abertos estão lotados.

_ Acha que alguém poderia nos reconhecer?

_ Washington não é tão grande assim. Acho arriscado.

_ Que tal um restaurante distante do centro? Lembra daquele restaurante de frutos do mar? Fica a uns quinze minutos do centro. É bem distante e sempre abre no natal.

_ Como você sabe?

_ Scully, a coisa que eu mais fazia era passar o natal sozinho, lembra?

Se havia alguma auto-piedade contida naquelas palavras, ela havia se perdido na expressão cômica de menininho desamparado que ele preparou para o momento.

Scully não pôde deixar de rir, e acabou concordando em sair para jantar.

Talvez isso desse aos dois o gosto não só de camarão e lula empanada, mas também da liberdade que haviam abandonado anos antes.

No caminho para o restaurante, Mulder pareceu ter, subitamente, mudado de humor.

Sua expressão se tornara séria. Seus dedos brincavam nervosamente no volante. Algumas vezes parecia incerto sobre qual rumo seguir.

Scully passou a observá-lo e começou a se preocupar quando notou que ele não parava de olhar para o retrovisor.

Ela se virou para ver se havia algo atrás deles, mas a rua estava deserta.

_ Mulder, o que foi?

_ Nada.

_ Você ficou nervoso de repente, o que foi?

_ Quando a gente saiu do hotel percebi um carro preto nos seguindo. Até agora há pouco ele estava atrás de nós.

_ Não vejo nenhum carro.

_ Eu sei. Provavelmente só estou sendo paranóico. Nada como voltar para casa, não é?

Antes que ela pudesse dizer algo, um carro preto surgiu vindo de uma rua transversal em alta velocidade. O carro se posicionou à frente da camionete e diminuiu a velocidade, obrigando Mulder a fazer o mesmo.

_ Mulder, você tem que sair dessa rua.

_ Eu sei, vou virar na próxima. Se segura.

Mulder deu uma guinada rápida no volante, entrando em uma rua à sua direita. Ainda ouviram a freada do carro que os perseguia.



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