Perfect World

parte 2

 

11:00 horas da manhã

Mulder já havia abandonado a janela. Scully não havia notado quando ele saíra, mas sabia que ele não havia ido longe. Não havia lugar para onde ele pudesse ir sem usar a camionete.

Morar naquele lutar esquecido por Deus, no meio das montanhas, havia parecido, a princípio a melhor escolha possível.

Mulder fazia uma viagem por mês até a cidade mais próxima, a algumas centenas de quilômetros abaixo, onde comprava mantimentos que durariam por mais de um mês. A não ser na semana anterior, quando voltara trazendo mantimentos suficientes para vinte famílias sobreviverem por uns três meses, sem problemas.

Naquele dia os dois discutiram novamente. Não que ela se importasse o quanto ele gastara, apesar de saber que o dinheiro que haviam conseguido retirar de suas contas e receber pela venda da casa da família Mulder, depois da fuga, seria suficiente para durar por somente mais uns dois ou três anos.

O que a irritou foi o fato de ele não ter mencionado o que pretendia fazer. Talvez soubesse que ela não queria aceitar a possibilidade da invasão. Scully, de fato, não aceitava, mas não era tola o bastante para não querer estar preparada para essa possibilidade.

O que a magoou foi justamente não terem conversado a respeito. A discussão servia para consertar esse erro, mas, pelo que ela havia notado, havia se transformado em um erro ainda maior.

Se antes Mulder estava mais fechado do que o usual, agora ele havia se afastado totalmente dela, em um momento em que ela tanto precisava dele.

Scully afastou seus pensamentos e decidiu que tomaria o melhor banho de banheira de sua vida. Quem poderia dizer se não seria o último, afinal?

01:00 da tarde

Mulder não queria voltar para a cabana. Queria, se fosse possível, ficar o dia todo observando o céu.

O céu, no entanto, parecia alheio ao homem abaixo dele. O azul intenso dominava toda a paisagem, e sequer uma nuvem maculava a pintura.

O vento soprava calmo, ligeiramente quente, mas fresco o suficiente para amenizar a temperatura sempre desagradável daquela região.

Mulder não sabia se nunca havia notado, ou se aquela era realmente a primeira vez que tudo a sua volta estava mais calmo, mais silencioso.

A impressão que tinha era que o mundo havia acabado, além do horizonte, mas que eles ainda não haviam sido comunicados.

Mulder riu para si, talvez rindo de si mesmo por aquele pensamento egocêntrico, ou rindo do resto do mundo, pela ironia da situação.

Os dois haviam abandonado o mundo, se afastado dele de tal forma que, agora que a possibilidade do mundo ter sido destruído parecia tão real, ele sequer podia tomar conhecimento disso.

Ou se importar.

Mas ele se importava. Não entendia porque, mas se importava. Não sabia se era uma simples teimosia, um desafio sem fim, ou se era uma curiosidade mórbida, um desejo não declarado pela destruição, somente para saber ou para provar o que sempre soube.

Mas provar para quem? Será que todos os que duvidaram dele, no momento final da destruição pensariam "Oh! Mulder estava certo!" ?

Ele duvidava, e isso não importava.

Scully. Era para ela que ele sempre quisera provar tudo. Ela havia se tornado o "mundo" para o qual ele queria mostrar a verdade. Mas a verdade era tímida, assustada. Nunca surgia de maneira clara e inquestionável.

Talvez por isso, Mulder tivesse esse desejo de ver o mundo virar poeira. Assim colocaria Scully na frente dos destroços e ela diria que ele tinha razão, que sempre tivera.

De certa forma ela já havia feito isso no passado, dez anos antes, mas o tempo foi criando novos obstáculos para essa fé cega que ele tanto buscava.

No final das contas, ele tinha consciência, tudo não passava de pensamentos egocêntricos e inúteis.

Decidiu voltar para a cabana e ter, talvez, sua última refeição com Scully.

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